domingo, 2 de dezembro de 2007

COMO DIMINUIR AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM SALA DE AULA




Luciana Cláudia de Castro Olímpio




Uma das tarefas primordiais dos professores de Língua Materna – Língua Portuguesa – e, em especial, dos alfabetizadores é a formação do leitor e escritor competentes. Enfatizo a importância dos alfabetizadores, pois são eles os primeiros responsáveis pelo contato sistemático das crianças com a língua escrita.
Neste artigo, faço algumas reflexões sobre leitura, escrita e ortografia, na tentativa de sugerir estratégias que norteiem o professor para orientar o aluno na construção de uma escrita coerente e ortograficamente correta, como também na formação de uma leitura significativa, aquela que envolve a compreensão do sentido global do texto e ultrapassa a decodificação mecânica de palavra por palavra, letra por letra, que ao invés de ajudar, faz é atrapalhar.
Com esse objetivo, proponho alternativas de trabalhos com textos e didáticas para implantação tanto no ensino fundamental como para o ensino médio, baseadas nas idéias de Frank Smith ( “Compreendendo a Leitura”, fornecido pela biblioteca Vicente Martins), João Vadeley Geraldi (“Prática da Leitura na Escola”), Nadja da Costa R. Moreira ( “Orientações para o Ensino da Leitura”) e outros mais citados na bibliografia, em que enfatizam o desenvolvimento das habilidades de raciocínio de leitura e escrita.

Metodologia

A leitura e a escrita são processos comuns aos seres humanos desde muito tempo, apesar de terem sido durante alguns séculos proibidos para uns (caso das mulheres) e liberados para outros ( como é o caso da nobreza) . Depois da invenção das escolas, passou-se a ter a preocupação em ensinar com eficiência a ler e a escrever, tarefa não tão simples, pois até hoje, estudiosos e professores procuram esta tão sonhada fórmula para orientar bem o ensino de uma leitura crítica e uma escrita significativa. E, antes de qualquer sugestão metodológica, é preciso conceituar, em cada momento da reflexão, leitura, escrita e ortografia sem trair a concepção dos autores estudados.
Começarei com a leitura, um dos problemas mais preocupantes para os professores de Língua Portuguesa, já que os alunos, a cada dia, criam uma certa aversão à leitura. Dentre os autores analisados apego-me a Geraldi (1999, p. 91) que afirma:“... a leitura é um processo de interlocução entre leitor / autor mediado pelo texto. Encontro com o autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita.”, ou seja, ler é interpretar e compreender o que o autor quer transmitir tanto nas linhas como nas entrelinhas.
“O entendimento ou compreensão é a base da leitura e do aprendizado desta. (...) Aprendemos a ler, e aprendemos através da leitura, acrescentado coisas àquilo que já sabemos.” (Smith, 2003, p. 21)
Baseada nas idéias de Smith, creio não trair o autor citado se disser que a leitura é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretação dos símbolos gráficos , de códigos, requer que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo matenha um comportamento ativo diante da leitura. Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado na memória sem uso, até que se tenha condições cognitivas (conhecimento) para utilizar.
Esta compreensão do texto, citado no parágrafo anterior, é um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao logo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo que o leitor consegue construir o sentido do texto.
Os conhecimentos relacionados acima são importantes para uma leitura de qualidade, pois cada um tem uma função diante da leitura. O conhecimento lingüístico abrange desde o conhecimento sobre pronunciar o português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre o uso da língua. Já o conhecimento do texto refere-se as noções e conceitos sobre o texto (Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será a sua compreensão). O outro conhecimento, o conhecimento de mundo, é adquirido informalmente, através das experiências, do convívio numa sociedade, cuja ativação, no momento oportuno, é também essencial à compreensão de um texto.
Se estes conhecimentos não forem respeitados, o objetivo e aprendizagem da leitura não serão alcançados. Isso acontece muito nas escolas, principalmente nas tradicionalistas. A maioria dos educadores de Língua Portuguesa, preocupados em seguir um plano didático, oferecem aos estudantes leituras de níveis bem superiores aos deles, proporcionando perplexidade dos mesmos diante do texto lido devido a incompreensão gerada por deficiência em algum conhecimento ou em todos citados acima.
Cito, como exemplo do que foi exposto no parágrafo anterior, um trecho do ensaio: “Os brasileiros – uma nova interpretação”, de Roberto Pompeu de Toledo (Revista Veja, 03 de maio, 2006):
“O presidente do INSS, Valdir Moysés Simão, disse ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que foi ao ar na segunda-feira, que as filas nas unidades de atendimanto do órgão se devem a uma “questão cultural” . Seria um traço do povo brasileiro já tão arraigado na consciência coletiva que contra ele se esboroam as boas intenções das autoridades. A frase completa foi: ‘Por uma questão cultural, o segurado tem receio e acaba chegando muito cedo...’”
A compreensão do trecho acima pode ficar comprometida se o leitor não tiver um dos conhecimentos como o lingüístico, o textual ou o conhecimento de mundo, ou seja, se não entender o vocabulário ( como o significado das palavras arraigado ou esboroam) , nem o tipo de texto (como no caso se é ensaio ou artigo) e nem tão pouco se não souber o que é o INSS, ou seja conhecimento de mundo..
Para amenizar as dificuldades de interpretação e compreensão de um texto, Smith (2003, p. 84) aconselha que a leitura seja rápida, seletiva e compatível ao que o leitor já sabe. Smith quis dizer que a leitura seja rápida e não descuidada, o leitor deve utilizar as informações não visuais (conhecimento prévio) para evitar ser confundido com uma leitura lenta, ou seja, uma leitura que busca muitas informações ao mesmo tempo, como vocabular, textual ou as informações implícitas.
Para se conseguir esta leitura rápida, seletiva e ao nível dos alunos, é preciso planejar antes, observar se os textos escolhidos realmente estão no nível dos educandos e a partir desse entendimento trabalhar com projetos.
Sabidos de que não é tão fácil de resolver este problema de dificuldades na leitura, proponho algumas condições que o professor de língua materna deve aceitar. Um dos primeiros passos para um bom desenvolvimento da leitura é acabar com o pensamento de muitos educadores de que leitura é uma forma de castigo, tirando a idéia lúdica do ato de ler, como mostra Geraldi (1999, p. 97)
“A fruição, o prazer, estão excluídos (...) A escola, reproduzindo o sistema e preparando para ele, exclui qualquer atividade não rendosa: lê-se um romance para preencher uma famigerada ficha de leitura, para se fazer uma prova ou até mesmo para se ver livre da recuperação.”
Deve-se entender que a leitura não deve ser uma apologia da dureza, da insensibilidade, da frieza, repressão e do medo. Esses atos podem transformar-se em efeitos colaterais catastróficos.
Pode até parecer absurdo, mas muitas escolas, principalmente as privadas, usam e abusam deste método tão condenável para quem realmente sabe o significado do que é ler, gosta e quer aprender ou ensinar a ler. Além desta situação citada acima, ainda existe os vestibulares que apóiam, de forma indireta, e obrigam aos candidatos a lerem os livros selecionados pela comissão executiva do vestibular no intuito de saberem responder as perguntas da prova de seleção, que muitas vezes são mal elaboradas e que de certa forma duvidam da inteligência dos candidatos, além de mostrar que não é preciso ler a obra na íntegra para saber responder algumas perguntas, fazendo assim apologia à leitura de resumos comentados. Como é o caso da prova de Língua Portuguesa, do vestibular da UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú) de 2005.2, em que na questão de número 06 (seis) pergunta-se qual o personagem principal da obra em questão). Esta questão é totalmente contrária ao pensamento da leitura crítica. Será que com tantas possibilidades de acesso as informações de livros, o aluno precisará ler a obra para ter esta informação?
Os professores de Língua Portuguesa trabalham leitura dentro e fora da sala de aula, na intenção de amenizar as dificuldades de ler. E é com a interação de diversos métodos de trabalho como a roda de leitura, os encontros literários (obras literárias apresentadas em forma de paródias, poesias, literatura de cordel, apresentações teatrais), paráfrases, jogos de adivinhações literárias, além das reflexões, interpretações e compreensões de textos através de perguntas coerentes que levem o aluno a pensar e participar das aulas de uma forma lúdica que os docentes apostam na melhoria desse antigo problema.
São vários os métodos para se trabalhar leitura. Começarei esta apresentação com a roda de leitura, oficina muito interessante que dá oportunidade do aluno escolher uma obra dentre muitas selecionada pelo professor referente à escola literária estudada no momento (cerca de uns 30 livros). Para trabalhar com a roda de leitura não é necessário usar somente obras literárias pode ser feita com textos mais curtos, como ensaios, contos, crônicas, entrevistas, textos jornalísticos etc.. Nesta oficina, o educando tem a oportunidade de se expressar, de apresentar o livro lido de uma maneira mais informal, com expressões próprias e com a ajuda de outros colegas que também tenham lido o mesmo texto. A exposição dos discentes são seguidas de momentos de reflexões coordenadas pelo professor ou pelos outros alunos da sala. Este método além de proporcionar aprendizagem, também incentiva outros alunos a ler as obras apresentadas.
Condemarín e Medina (2005, p. 45) afirmam que: “... Os círculos literários são discussões sobre literatura coordenadas pelo professor incluindo toda a classe, ou realizadas em pequenos grupos formadas por duplas. (...) Os alunos participam do diálogo para interpretar ou explicar o conteúdo. Na medida em que dão atenção ao argumento, motivos e características dos personagens, aos conflitos que ocorrem dentro da história e suas soluções, eles constroem um amplo leque de significados que relacionam e ampliam suas próprias experiências.”
Os encontros literários também fazem parte do processo do ensino de leitura e oportuniza ao professor a descobrir novos talentos. As obras literárias são lidas em grupos e apresentadas em sala de aula através de paródias, literatura de cordel, poesias, seminários e peças teatrais. Este trabalho pode ser implantado tanto com os alunos do Ensino Fundamental, como do Ensino Médio. Os discentes lêem as obras selecionadas de acordo com o momento estudado na literatura e apresentam de forma lúdica aos outros colegas de sala ou até mesmo para alguns convidados.
Tem-se como exemplo um projeto elaborado pela professora de Língua Portuguesa, da Escola Wilebaldo Aguiar, de Massapê, aplicado nas segundas e terceiras séries do Ensino Médio, com o objetivo de os alunos aprenderem de forma mais prazerosa, os livros selecionado pelo professor. Este projeto também foi aplicado com os livros do vestibular da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
Vejamos um exemplo de uma das apresentações, em forma de paródia, com o resumo de “Senhora”, de José de Alencar, aplicado na segunda série do Ensino Médio. A paródia é uma adaptação da música “Só hoje”, de Jota Quest.
Esta história aconteceu no Rio de Janeiro
Aurélia Camargo estava apaixonada
Era uma coisa normal

Seu grande amor era Fernando Seixas e por ele estava louca
Um amor que ninguém nunca viu
Que ninguém nunca viu

Decidiram então se casar
Depois de um tempo a abandonou
Atraído pelo dote de Adelaide Amaral

Aurélia decidiu logo se vingar de Seixas
Com uma herança inesperada
Do avô que ela recebera
Era preciso

A moça lhe ofereceu cem contos de réis
Se ele quisesse se casar
Viu a noiva só no dia do seu casamento
Aurélia mostrou o recibo da compra

Seixas pagou a dívida, limpando sua honra, com uma despedida
Mas se abraçaram loucamente e viveram felizes para sempre.

A paródia foi apresentada com a melodia de um violão e a ajuda dos alunos que acompanharam lendo a cópia da paródia distribuída pelo grupo. Depois da apresentação, os alunos da equipe fizeram um estudo crítico e responderam as perguntas dos colegas de classe, do professor e dos convidados, transformando a sala de aula em um lugar de debates e discussões acerca do livro e do momento em que ele está inserido, fazendo muitas vezes uma comparação dos acontecimentos e temáticas da obras com os dias atuais.
Embora a paráfrase de obras literárias, principalmente os indicados pelos vestibulares e textos em geral, seja muito comum em livros didáticos e na Internet, este método continua sendo eficiente para ser trabalhado em sala de aula para que o professor possa observar se o aluno compreendeu o texto ou a obra lida. De acordo com Condemarín e Medina (2005, p. 45): “Essa ação obriga os alunos a reorganizarem os elementos do texto de maneira pessoal, o que revela sua compreensão. A paráfrase proporciona mais informação sobre o que os alunos realmente pensam sobre a história do que quando se pede uma opinião geral a respeito desta.”
O jogo de adivinhação é outra forma para ensinar leitura. Através de perguntas e passagens importantes das obras lidas os alunos devem adivinhar a que obra pertence.
Todas as estratégias de ensino da leitura são válidos, só basta que os professores saibam e transmitam aos alunos o real conceito, função e importância do saber ler para construir leitores críticos e participativos. Um dos processos para este acontecimento é o docente avaliar de forma coerente a leitura dos alunos para obter resultado e saber ensiná-los com eficiência.
Além da leitura, tem-se a escrita que é uma das formas superiores de linguagem, requer que a pessoa seja capaz de conservar a idéia que tem em mente, ordenando-a numa determinada seqüência e relação, ou seja, planejar e esquematizar a colocação correta de palavras ou idéias no papel. Este processo é um tanto complicado até mesmo para grandes escritores , quem dirá para nós, simples mortais. Vejamos os versos do grande poeta do Modernismo brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
“Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever
No entanto ele está cá dentro
Inquieto, vivo
Ele está cá dentro
E não quer sair.”
No entanto escrever não é apenas uma questão de gramática, de morfologia ou de sintaxe, não é uma questão de executar, certo ou errado, determinados padrões lingüísticos. Não é tão pouco formar frases, nem sequer juntá-las, por mais bem formadas que elas estejam.
Condemarín e Medina (2005, p. 63) firmam que: “Escrever ou produzir um texto é um ato fundamentalmente comunicativo, assim, para aprender a escrever é necessário enfrentar a necessidade de comunicar algo em uma situação real, a um destinatário real, com propósitos reais.”
Em outras palavras é ativar sentidos e representações já sedimentados que sejam relevantes num determinado modelo de realidade e para um fim específico; é antes de tudo, agir, atuar socialmente; é, nas mais diferentes oportunidades realizar atos convencionalmente definidos, tipificados pelos grupos sociais, atos normalizados, estabilizados em gêneros, com feição própria e definida. É uma forma a mais de, tipicamente, externar intenções, de praticar ações, de intervir socialmente, de “fazer”, afinal.
Para que ocorra o aprendizado da escrita é necessário que se compreenda a real função dela. Função esta que é muitas vezes ignorada pelas escolas por elas terem o único objetivo de os alunos aprenderem redação. Assim afirma Kaufman (1995, p. 51):
“ O absurdo da escola tradicional é que se escreve nada para ninguém. Todo o esforço que a escola tradicional pede à criança é o de aprender a escrever para demonstrar que sabe escrever.”
O problema acima citado é comum nas escolas, mas é de fácil resolução. Uma das formas de buscar uma eficiente aprendizagem na escrita, é antes de o professor iniciar o ensino, planejar-se. O planejamento é algo importante não só na escola como também na vida pessoal. O objetivo do planejamento é de o educador levar em consideração o que os discentes sabem e o que eles ignoram, podendo assim formular projetos de escrita que incentivem os alunos a quererem produzir algo.
“Um projeto de escrita pode ser concebido como um todo: por exemplo, um livro de poemas, um jornal da classe, um guia turístico; ou como parte de um projeto mais amplo. Por exemplo, uma carta ao gerente de uma indústria que se deseja visitar, um cartaz para anunciar uma competição esportiva, etc.” (Condemarín e Medina, 2005, p. 65)
Com o trecho acima enfatizo os benefícios dos projetos que contam com algum receptor dos materiais escritos, conhecidos e desconhecidos, mas leitor em potencial dos textos que serão produzidos, já que ninguém, fora dos muros escolares, escreve para ninguém. Sempre há um destinatário.
Estes projetos têm como objetivo incentivar os alunos a melhorarem a escrita, pois conscientes de que dentro da escola os únicos destinatários são seus professores e seus pais, eles não têm uma real vontade para melhorar suas produções. Muitos argumentam que o professor ou os pais entendem as letras deles, mesmo que o traçado não seja legível, que sabem que são fracos na ortografia e que quando não são claros no que escrevem os professores ou os pais perguntam.
Com a aplicação desses projetos, os textos escritos pelos alunos passam a ter um outro sentido e a partir disto eles começam a se preocupar tanto com o conteúdo como com a escrita e, conseqüentemente, melhoram a aprendizagem neste quesito.
Um outro ponto importante que o professor de Língua Portuguesa precisa saber é que ele é um educador do pensamento e da interioridade dos alunos, pois a função do professor de redação é de orientar o aluno através da leitura de textos ou contação de histórias que se relacionem aos temas dados em sala de aula para que eles desabrochem na escrita. Por exemplo, o educador pode solicitar que o aluno disserte um texto sobre a desigualdade social, e antes da produção ele pode ler a poesia “O bicho”, de Manuel Bandeira que relata a triste situação de alguns seres humanos.
O ato de escrever é uma atividade individual e solitária. É o momento em que se fecham as portas do exterior e se abrem as portas do mundo interior para nele o indivíduo mergulhar. Então, mesmo que o objetivo da escrita seja um acontecimento, algo relacionado a uma realidade basicamente física, é difícil para o discente escrever. Isso por que a realidade interior somente adquire significado e organização a partir de uma realidade exterior sob o prisma da realidade interior.
Resumindo, se o aluno não tiver a ajuda do professor com leituras, debates ou discussões específicas a cada trabalho, ele, se não for acostumado a viver sós com os pensamentos e sensações, se não tiver um interior com idéias organizadas e concretas, possivelmente, ao se deparar com um tema e uma folha em branco, se perderá no emaranhado de suas idéias, pensamentos e sentimentos. O mundo interior estará confuso e desorganizado e, consequentemente, não saberá qual caminho seguir e tão pouco como começar.
Como mais um exemplo deste trabalho de ajuda, destaco o projeto da professora Maria Margarida Simões Catali, ganhadora do Prêmio Victor Civita na categoria de Língua Portuguesa. Em 1999, ela explorou fábulas com seus alunos de 5ª série. Eles aprendiam detalhes dessa proposta narrativa enquanto refletiam sobre a própria conduta, a dos colegas e a da sociedade. Lendo e interpretando “A Cigarra e a Formiga”, de La Fontaine, todos discutiam diversas morais possíveis para a história. Depois, cada um produziu um texto defendendo seu ponto de vista.
A produção textual em grupo e o uso do borrão são maneiras eficientes de melhorar a escrita. O primeiro, através de debates com os colegas, ativa a idéia de quem tem dificuldade em produzir texto. Além de ser uma forma de um avaliar o texto do outro, indicando os erros ou melhorando passagens do que está escrito ou expressões. Este trabalho estimula a leitura crítica e estabelece relações de ajuda recíproca entre eles, transformando-os em verdadeiros avaliadores. O professor de Português pode criar uma ficha de avaliação para ajudar e orientar os alunos na prática da avaliação. Os itens usados como elementos de uma ficha de auto-avaliação ou de avaliação em grupo pode ser modificada, de acordo com a vontade do professor ou o nível e vontade dos alunos.Observemos abaixo um modelo de ficha de avaliação.
Escola:
Aluno= Autor: Nº Série= Classe:
O = Ótimo B = Bom R = Regular
Ficha de Avaliação
Aspectos Estéticos
Aspectos Estilísticos
a. Legibilidade da letra

a. Repetição de palavras
b. Paragrafação

b. Frases longas
c. Margens irregulares

c. Emprego de palavras desnecessárias
d. Travessão

d. Escrever como se estivesse falando
e. Ausência de rasuras

Aspectos Estruturais
Aspectos Gramaticais
Este aspecto é diferenciado para cada redação, principalmente se os gêneros forem diferentes. Esse é o aspecto principal da avaliação.
a. Ortografia

b. Acentuação

c. Concordância

d. Pontuação

Obs: Apontar os erros na redação do colega a lápis.
Antes de aplicar a ficha de avaliação, o professor deve exigir a elaboração do rascunho. O aluno precisa saber o motivo da exigência e a utilidade do rascunho, pois tal fase é feita naturalmente pelo escritor, pelo jornalista, pelo pinto, pelo desenhista, pelo advogado e outros profissionais que dele necessitam para um bom resultado do trabalho. Só os broncos e arrogantes dispensam o rascunho.
Precisa ficar bem claro para o aluno (são muitos os que não gostam de utilizar o borrão em suas tarefas de produção textual) que o rascunho não é apenas uma exigência chata do professor, assim como ele precisa saber usá-lo. Se o discente mecanicamente passa do borrão para o texto definitivo, sem uma leitura crítica (sua ou de seu colega) ele de fato vai se tornar uma atividade enfadonha e não haverá possibilidade da observação dos erros ou da organização das idéias.
Como forma de educar o aluno para a feitura do rascunho, já que este procedimento é importante para o ensino-aprendizagem da escrita, é bom pedir para cada um entregá-lo a um colega para que os olhos estranhos procedam à revisão. Quando o texto for feito em casa, pede-se para o aluno “deixar o texto dormir” , ou seja, só passar a limpo horas depois ou no dia seguinte. Assim, ele ganhará distanciamento crítico e descobrirá os erros que seriam despercebidos caso passasse a produção textual a limpo imediatamente.
Tanto a aprendizagem da leitura como da escrita só terá um bom desenvolvimento, se o professor tiver o hábito de ler e de escrever, pois só assim ele será mais tolerante tanto na hora de avaliar as produções textuais dos alunos como também na hora de selecionar os textos para serem lidos. Não dá para ensinar futebol sem nunca ter praticado o esporte. Então? Como ensinar a ler e escrever sem nunca ter lido ou redigido um texto na vida?
Uma outra dificuldade que envolve um bom desenvolvimento tanto da leitura como da escrita é a tão cobrada ortografia, ou seja, a escrita bonita. E é por valorizar esta escrita bonita que muitos professores pecam ao avaliar os textos dos alunos, causando assim um grande desestímulo por parte dos mesmos e retardando o aprendizado não só da ortografia como também da escrita e da leitura.
“Quando se considera em primeiro lugar os erros ortográficos ao avaliar o texto, sem antes dar atenção suficiente ao seu conjunto, provoca-se uma deterioração na relação do aluno com o ato de escrever revelando uma concepção limitada da escrita. Nesse sentido, as excessivas correções ortográficas acabam levando o aluno a empobrecer seus escritos para evitar correr o risco de cometer muitos erros que serão sancionados pelo professor”. ( Condemarín e Medina, 2005, p. 67)
A ortografia é importante dentro de um texto, mas não se deve fazer drama em cima dos erros ortográficos e sim a partir deles tentar ajudar os alunos. São muitos os procedimentos para orientar os discentes para não escreverem errado.
Na hora do planejamento não colocar no plano mensal a ortografia exigida pelo plano anual para aquele dado mês, mas observar , através das produções textuais dos alunos os erros ortográficos mais repetidos. Assim, trabalhar-se-á as deficiências ortográficas mais necessárias a cada turma.
Além de se trabalhar a ortografia correta sem seguir um plano, apenas por exigência para aquela série, sem saber qual a real necessidade do aluno, pode-se chamar, dependendo do erro cada discente para uma conversa amigável, sem fazer escândalo com os erros, ou então comentá-los na lousa, sem dizer de quem são os erros, pois o objetivo deste método é evitar que outros cometam os mesmos erros e não constranger o aluno. Esses comentários devem ser feitos de forma bem natural para que os alunos aprendam ao invés de ficarem tensos ou de zombarem dos que erraram.
A leitura e a escrita são muito importantes na aprendizagem da ortografia, pois quanto mais o aluno ler e produz texto, mais ele entra em contato com as palavras e consequentemente aprende, sem a imposição ou os recadinhos, muitas vezes negativos, de certos professores tradicionalistas que acabam desmotivando o aluno não só a deixar de produzir os textos por acharem que não sabem escrever, como também de perderem a oportunidade de aprender a escrever corretamente.
Como forma de ensinar ortografia aos alunos é transformar estas aulas em algo prazeroso. Uma dica é fazer dinâmica em sala de aula ou fora dela.
Vejamos um exemplo de uma ótima aula de ortografia em que os alunos aprendem sem muita cobrança. Este método pode ser aplicado tanto para os alunos do Ensino Fundamental como para o Ensino Médio.
Primeiro passo: Dividir os alunos em grupos. Segundo passo: Colocar várias palavras de um mesmo trabalho ortográfico ( como por exemplo: s, ss, sc, xc. ç ) e dividir em colunas na quantidade de grupos. Terceiro passo: Pedir para um aluno de cada grupo escolhido, depois de uma observação em grupo, ir até o quadro e preencher os espaços em branco referente ao seu grupo. Quarto passo: Após o término da atividade, os próprios alunos observarão se as palavras estão escritas corretamente ou erradas. Caso estejam erradas justificar o erro e consertar.
Esta atividade proporciona um debate em sala de aula e o aluno aprende de forma mais agradável e menos enfadonha, diminuindo as dificuldades na aprendizagem ortográfica.


Conclusão
Para Condemarín e Medina (2005, p. 67) “A ortografia não constitui um aspecto separado do conjunto do texto; ao contrário, para que os alunos avancem em suas competências ortográficas, é necessário que considerem o conjunto do que escreverem, dado que muitas vezes os erros ortográficos decorrem de uma má percepção dos aspectos pragmáticos, semânticos e morfossintáticos do texto...”
Resumindo, sem contrariar as idéias do escritor escolhido, a ortografia, a leitura e a escrita estão interligados, ou seja, para aprender a ler, precisa-se da ortografia, para aprender a escrever, precisa-se da leitura e da ortografia e assim sucessivamente.
As dificuldades na leitura, na escrita ou na ortografia só irão melhorar quando boa parte dos professores de Língua Portuguesa, preocuparem-se com o verdadeiro aprendizado do aluno e deixarem um pouco de lado os planos que não são compatíveis aos níveis dos discentes.


Referências Bibliográficas

CONDEMARÍN, Mabel; MEDINA, Alejandra. Avaliação Autêntica: um meio para melhorar as competências em linguagem e comunicação. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2005

GERALDI, João Vanderley (org). O texto na sala de aula. 3ª ed. São Paulo. Ática, 1999.

KAUFMAN, Ana Maria Rodriguez. Escola, Leitura e Produção de Textos. Tradução Inajara Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995

MOREIRA, Nadja da Costa Ribeiro. Orientações para o ensino da leitura. Revista de letras, nº 07 (1/2) UFC
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. 4ª ed. Tradução de Daise Batista. Alegre: Artmed, 2003
Luciana Cláudia de Castro Olímpio é graduada em Letras. O presente artigo foi orientado pelo professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.


E-mail: vicente.martins@uol.com.br


























COMO DESENVOLVER AS PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE TEXTOS


Como desenvolver as práticas de produção de textos

Lívia Ferreira Pereira
Maria Meiriane Freire Aguiar

O presente artigo propõe, de forma clara e objetiva, abordar aspectos e mostrar estratégias para uma boa elaboração e produção de textos.
Tendo em vista, a grande dificuldade de crianças do ensino fundamental ao redigir um texto, apreciamos o ato da escritura como algo mágico que deve estar presente na vida de todos.
Todavia, sabendo-se que um bom texto se faz pela constante e incansável leitura; percebemos, por meio de uma pesquisa realizada com crianças da rede estadual, onde lhes foi proposto para que relatassem um acontecimento, que estas estão perdendo esse hábito, assim a incapacidade de escrita se faz presente.
A produção de textos requer dos escritos todo um planejamento antes da escrita, pois dessa forma é possível que haja eficiência e qualidade no acabamento do texto. São diversas as produções textuais com as quais podemos motivar os alunos para que produzam, no entanto, neste trabalho, propusemos e estimulamos a produção de jornal escolar. O jornal é um grande meio de comunicação, e quando passa a ser produzido na escola, pelos próprios alunos, torna-se uma forma de interação com outras pessoas.
Assim sendo, estabelecemos como fonte para este trabalho, as atividades redacionais estipuladas por Hayes e Flower, apresentado por Garcia – Debanc, considerando suas grandes contribuições para entender todo o processo de escrita. É deste estudo, que surge a forma de produzir textos, acerca dos aspectos que são analisados, de como se escrever bem, o que fazer para escrever bem, e de que maneira a escrita é tão importante para nós.

Com base na diversidade de pesquisas realizadas sobre a escrita durante a produção de textos e como a interação com outras pessoas possa vir a influenciar na elaboração final do mesmo, propusemos para alunos do ensino fundamental que
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produzissem um relato de acontecimento, sendo o principal objetivo a análise do processo de escrita, bem como a capacidade de raciocínio e criatividade que as crianças possuem. O estudo foi realizado individualmente com alunos de escolas estaduais, todos oriundos da cidade de Cariré-CE. Apresentamos, também aspectos para a elaboração de jornal escolar, sendo este um grande meio de comunicação entre os alunos e a sociedade.
Assim sendo, de acordo com as atividades redacionais de Hayes e Flower¹, proposto por Garcia-Debanc², permite estabelecer aspectos diante do ato da escrita, onde esta execução requer, segundo os autores, três tipos de operações:

“A planificação que engloba as atividades de concepção (determinação dos objetivos atribuídos ao texto, bem como do tipo e do conteúdo do texto), de organização (escolha de uma ordem, seleção dos elementos a utilizar) e de remodelagem (adaptação do tipo de discurso ao público alvo); a ‘micro-planificação’ (segundo a terminologia de Fayol e Schneuwly)³ que designa a atividade de redação propriamente dita: organização dos enunciados no respeito das regras globais (tipo de texto, coerência macroestrutural) ou locais (ortográficas, sintáxicas, lexicais); a revisão que concerne a releitura (reconhecimento dos erros de ortografia, sintaxe4 e léxico5; detecção de efeitos de incompreensão, contradições, inexatidões; conformidade do texto produzido com o texto esperado), ao remanejamento (os últimos retoques) e à reescrita.”
FERBACH, Mônica de Araújo, 2006. p.137

Tendo em vista, a pesquisa pronta e acabada, foi possível perceber a grande capacidade das crianças. Diante do tema que lhes foi concebido, ou seja, o relato de um acontecimento, a principio a apreensão e a dificuldade tomou conta de todos. Porém, depois de realmente entenderem a proposta, as idéias e pensamentos fluíram com grande facilidade. No entanto, percebemos que o principal problema está ligado à ortografia, pois os erros são constantes e permanentes. Esses erros são exemplos comuns de dificuldades durante a escrita: “s” ou “ç”? “x” ou “ch”?; trata-se, portanto da falta de atenção da criança ou mesmo não saber a forma correta da escrita. Observamos também, como o diálogo, o discurso com outras crianças é algo positivo, pois quando trabalham juntas na escola ou em grupo há uma troca de idéias, que se faz por meio de indagações, o que torna-se benéfico para todos. Para Vygotsky:

“Cada frase, cada conversa é precedida da aparição de um motivo, isto é, por qual razão eu falo, em que fonte de impulsões e necessidades afetivas se alimenta essa atividade (...) No caso da linguagem oral, não se precisa criar uma motivação. É a dinâmica da situação que trata disso. O diálogo (...) é uma cadeia de reações”.
Vygotsky, op.cit, p. 261

Uma forma bastante interativa se faz na proposta de elaboração de jornal escolar, pois há um interesse e envolvimento maior dos alunos, sendo esta uma maneira de enriquecer o conhecimento, por meio do diálogo entre eles e os próprios funcionários da escola, lembrando que “todo discurso se inscreve em um processo diálogo” Bakhtin (1984).
Os assuntos a serem abordados no jornal escolar podem ser vários, abrangendo o meio estudantil e o mundo em que vivemos. É de suma importância que se dê ênfase a todos os assuntos que são tratados no dia-a-dia, assim poderá despertar a conscientização e o interesse de todos. O conteúdo informativo do jornal, deve ficar à cargo dos próprios alunos, com produções textuais desenvolvidas por eles em sala, sendo um meio de valorizar o esforço e incentivar cada vez mais o hábito da escrita.
Hoje, o desenvolvimento de textos escritos, está pouco valorizado e uma solução para resgatar e fortalecer a produção dos mesmos é a elaboração de jornais, tanto no âmbito estudantil como acadêmico, pois assim é possível que os alunos desenvolvam suas idéias, sentimentos e opiniões sobre variados assuntos. Acontecimentos da escola, como festas, comemorações, reivindicações, novidades relacionadas às metodologias implantadas pelos professores, endereços de sites educativos, de pesquisas entre outros, devem fazer parte do arsenal de informações contidas no jornal. Antes de serem impressas e levadas a público é preciso fazer uma avaliação dos escritos para correções de eventuais erros ortográficos, assim o texto já estará apto para ser publicado e apreciado. Esse cuidado que deve-se ter com a produção e a elaboração de textos, requer de nós escritores, mais qualidade no que lemos, porque é através da leitura constante que se faz bons escritores. Assim esperamos que este estudo venha a contribuir de forma eficaz para os futuros escritores do nosso país.

Notas
1 Hayes e Flower, 1980
2 Garcia-Debanc, 1986, pp 23-51
3 Fayol e Schneuwly, 1987
4 Parte da gramática que ensina a dispor as palavras para formar as orações, as orações para formar períodos e parágrafos, e estes para formar o discurso.
5 Conjunto de palavras de que dispõe um idioma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNBACH, Mônica de Araújo. Escrita e interação. In DEL RÉ, Alessandra. A aquisição da Linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006. pp. 135-167.
VOZ DO ALUNO, Jornal dos alunos de 3º e 4º ciclos e de 6ª e 7ª séries da E.E.F.M. Francisco de Almeida Monte, São José – Alcântaras, 2006.
MICHAELIS 2000: moderno dicionário da língua portuguesa – Rio de Janeiro: Reader’s Digest; São Paulo: Melhoramentos, 2000 2V.

Lívia Ferreira Pereira e Maria Meiriane Freire Aguiar escreveram o presente artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.

e-mail: vicente.martins@uol.com.br

COMO AS CRIANÇAS ADQUIREM E DESENVOLVEM A LINGUAGEM





Janieri de Sousa Oliveira
Maria de Lourdes da Rocha
Conceição Elane

A linguagem das crianças intriga lingüistas e estudiosos do assunto. Sendo assim crianças do século XII, por exemplo, apesar de crianças como as de hoje não brincavam com os mesmos brinquedos, nem sentiam, nem pensavam, nem se vestiam como as crianças de hoje. E, certamente as crianças deste século terão características muito diferentes das de hoje. É interessante que assim surge um questionamento: se as crianças de antigamente eram diferentes das de hoje certamente as de amanhã também serão. Por que é então interessante estudar a infância se esta muda?
Na tentativa de responder a essa questão surgiram muitas teorias. Segundo Maingueneau “a aquisição da linguagem tenta explicar entre outras coisas o fato de as crianças, por volta dos 3 anos, serem capazes de fazer o uso produtivo - de suas línguas”. Com base nisso tentarei aqui expor alguns pontos importantes de aquisição da linguagem pela criança.
Desde pequenos já existe a comunicação, mas esta não é feita por meio oral. A linguagem é um sistema de símbolos culturais internalizados, e é utilizada com o fim último de comunicação social. Assim como no caso da inteligência e do pensamento, o seu desenvolvimento passa também por períodos até que a criança chegue a utilização de frases e múltiplas palavras.
Ao nascer, a criança não entende o que lhe é dito. Somente aos poucos começa a atribuir um sentido ao que escuta. Do mesmo modo acontece com a produção da linguagem falada. O entendimento e a produção da linguagem falada evoluem.
Existem diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a gráfica. Para se comunicar a criança utiliza, tanto a linguagem corporal ( mímica, gestos, etc.) como a linguagem falada. Lógico que ela ainda não fala, mas já produz linguagem. Vamos ver como!
O desenvolvimento da linguagem se divide em dois estádios: pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa palavras.
No estádio pré – lingüístico a criança, de princípio, usa o choro para se comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer este choro ainda é indiferenciado, porque nem a mãe sabe o que ele significa, mas aos poucos começa a ficar cheio de significados e é possível, pelo menos para a mãe, saber se o bebê está chorando de fome, de cólica, por estar se sentindo desconfortável, por querer colo etc. è importante ressaltar que é a relação do bebê com sua mãe, ou com a pessoa que cuida dele, que lhe dá elementos para compreender seu choro.
Além do choro, a criança começa a produzir o arrulho, que é a emissão de um som gutural, que sai da garganta, que se assemelha ao arrulho dos pombos. O balbucio ocorre de repente, por volta dos 6-10 meses, e caracteriza – se pela produção e repetição de sons de consoantes e vogais como “ma – ma – ma – ma”, que muitas vezes é confundido com a primeira palavra do bebê.
No desenvolvimento da linguagem, os bebês começam imitando casualmente os sons que ouvem, através da ecolalia. Por exemplo: os bebês repetem repetidas vezes os sons como o “da – da – da”, ou “ma – ma – ma – ma”. Por isso as crianças que tem problema de audição, não evoluem para além do balbucio, já que não são capazes de escutar.
Por volta dos 10 meses, os bebês imitam deliberadamente os sons que ouvem, deixando clara a importância da estimulação externa para o desenvolvimento da linguagem. Ao final do primeiro ano, o bebê já tem certa noção de comunicação, uma idéia de referência e um conjunto de sinais para se comunicar com aqueles que cuidam dele.
O estádio lingüístico está pronto para se estabelecer. Sendo assim, contando com a maturação do aparelho fonador da criança e da sua aprendizagem anterior, ela começa a dizer suas primeiras palavras.
A fala lingüística se inicia geralmente no final do segundo ano, quando a criança pronuncia a mesma combinação de sons para se referir a uma pessoa, um objeto, um animal ou um acontecimento. Por exemplo, se a criança disser apo quando vir a água na mamadeira, no copo, na torneira, no banheiro etc., podemos afirmar que ela já esta falando por meio de palavras. Espera – se que aos 18 meses a criança já tenha um vocabulário de aproximadamente 50 palavras, no entanto ainda apresenta características da fala pré – lingüística e não revela frustração se não for compreendida.
Na fase inicial da fala lingüística a criança costuma dizer uma única palavra, atribuindo a ela no entanto o valor de frase. Por exemplo, diz ua, apontando para porta de casa, expressando um pensamento completo; eu quero ir pra rua. Essas palavras com valor de frases são chamadas holófrases.
A partir daqui acontece uma “explosão de nomes”, e o vocabulário cresce muito. Aos 2 anos espera – se que as crianças sejam capazes de utilizar um vocabulário de mais de cem palavras.
Entre os 2 e 3 anos as crianças começam a adquirir os primeiros fundamentos de sintaxe, começando assim a se preocupar com as regras gramaticais. Usam, para tanto, o que chamamos de super – regularização, que é uma aplicação das regras gramaticais a todos os casos, sem considerar as exceções. É por isso que a criança quer comprar “pães”, traze – los nas “mães”. Aos 6 anos a criança fala utilizando frases longas, tentando utilizar corretamente as normas gramaticais.
Chomsky defende a idéia de que a estrutura da linguagem é, em grande parte, especificada biologicamente (nativista). Skinner afirma que a linguagem é aprendida inteiramente por meio de experiência (empirista). Piaget consegue chegar mais perto de uma compreensão do desenvolvimento da linguagem que atenda melhor a realidade observada. Segundo ele tanto o biológico quanto as interações com o mundo social são importantes para o desenvolvimento da linguagem (interacionista).
Dentro da óptica interacionista, da qual Piaget é adepto, o aparecimento da linguagem seria decorrência de algumas das aquisições do período sensório – motor, já que ela adquiriu a capacidade de simbolizar ao final daquele estádio de desenvolvimento da inteligência. Soma – se a isso a capacidade imitativa da criança. As primeiras palavras são intimamente relacionadas com os desejos me ações da criança.
O egocentrismo da criança pré – operatório também se faz presente na linguagem que ela exibi. Desse modo, ela usa frequentemente a fala egocêntrica, ou privada, na qual fala sem nenhuma intenção muita clara de realmente se comunicar com o outro, centrada em sua própria atividade. É como se a criança falasse em voz alta para si mesma. Contudo ela também usa a linguagem socializada, que tem como objetivo se fazer entendida pelo interlocutor.
Já de acordo com Vygostisky “não basta apenas que a criança esteja ‘exposta’ à interação social, ela deve estar ‘pronta’, no que se refere à maturação, desenvolver o (s) estágio (s) para compreender o que a sociedade tem para lhe transmitir:
· sensório – motor, de 0 a 18/24 meses, que precede a linguagem;
· pré – operatório, de 1;6/2 anos a 7/8 anos, fase das representações, dos símbolos;
· operatório – concreto, de 7/8 a 11/12 anos, estágio da construção da lógica;
· operatório – formal, de 11/12 anos em diante, fase em que a criança raciocina, deduz, etc. “

Para fazer uma síntese do que torna fácil ou difícil de aprender para a criança, apresentamos o quadro abaixo:
A LÍNGUA É FÁCIL QUANDO A LÍNGUA É DIFÍCIL QUANDO
É real e natura É artificial
É integral É dividida em pedaços
Faz sentido Não faz sentido
É interessante É chata e desinteressante
Faz parte de um acontecimento social Esta fora de um contexto
Tem utilidade social Não possui valor social
Tem propósito para a criança Não tem finalidade para a criança
A criança a utiliza por opção É imposta por outra pessoa


Após essas considerações esperamos ter ajudado a compreender um pouco mais da complexidade que é o mundo da fala infantil.

Conclusão

Seria importante apenas ressaltar o quanto os estudos contribuíram para as diferentes contribuições no âmbito dos estudos da fala infantil. O quanto as crianças conseguem antes mesmo de 1 ano transmitir a noção de fala. Bem como todo o processo vivido por ela no intervalo de tempo de zero a 6 anos.
É digno de nota as idéias de Chomsky, Piaget e Skinner, bem como Vygostisky que muito contribuíram para o aperfeiçoamento de nosso estudo. Esperamos que o referido artigo possa contribuir para aprofundamento de estudos nesse assunto.


Referências Bibliográficas

SAMPAIO, Fátima Silva. Linguagem na Educação Infantil. Fortaleza, SEDUC, 2003 pp. 12 – 18.
FARIAS, Maria Cílvia Queiroz. Linguagem na Educação Infantil. Fortaleza, SEDUC, 2003 pp. 12 – 18.
FROTA, Ana Maria Monte Coelho. Formação de educadores infantis Desenvolvimento Infantil: a criança de 0 a 6 anos. IMEPH pp. 19 – 21.
DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem. São Paulo, 2006. pp. 13 – 44.

Para a elaboração do presente artigo, Janieri de Sousa Oliveira, Maria de Lourdes da Rocha e Conceição Elane contou com a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.



COMO APRENDEMOS A HABILIDADE LINGUAGEIRA



COMO APRENDEMOS A HABILIDADE LINGUAGEIRA


Márcia Rejane Alves Rodrigues


Este artigo vem tratar de questionamentos pertinentes à aquisição da linguagem sob a ótica das teorias empiristas e Racionalistas.

Diante da complexidade de entender como a criança adquire a linguagem, estudiosos dos campos lingüístico, sociolingüístico e psicolingüístico têm elaborado estudos cada vez mais relevantes acerca da aquisição da linguagem.
Vários questionamentos nos vêm à cabeça referentes ao aprendizado da comunicação, tais como: Como aprendemos? Quais mecanismos neurológicos e psicológicos estão por traz da aquisição? Nascemos ou não com uma predisposição para a linguagem? E para tentar responder tais questões, várias teorias têm se destacado, como o empirismo, o racionalismo e o interacionismo social. Tais correntes, apesar de sérias fundamentações, deixam lacunas, quanto a explicar o aquisicionismo, e dividem opiniões. Vejamos adiante quais pressupostos que cada corrente nos revela.


Teorias Empíricas

O empirismo fundamenta-se na afirmação de que o conhecimento provém das experiências, descartando a mente como componente fundamental no processo de aquisição.
Derivam-se da corrente empirista duas teorias: o behaviorismo e o conexionismo
O termo behaviorismo foi criado pelo americano John B. Watson, em 1913 e significa comportamento.
O behaviorismo acredita que ao nascermos somos como uma página em branco, e que nossas impressões serão escritas a partir de experiências por meio de estímulos e respostas ou imitação e reforços, positivos ou negativos.
Já o conexionismo admite que o cérebro e seus milhões de neurônios são os responsáveis pela aquisição imediata no momento da experiência. No conexionismo a aprendizagem se dá do encontro do organismo (cérebro) com o ambiente.

Teorias Racionalistas

No racionalismo a mente é a principal responsável pela aquisição da linguagem, pressupondo que já nascemos com uma capacidade inata no processo de aquisição da língua.
No racionalismo surgem as teorias inatistas e cognitivistas.
Segundo inatistas como Chomsky, a linguagem não ocorre com memorização, já que para eles, as estruturas da língua são complexas e abstratas e, portanto, transmitidas geneticamente ou biologicamente determinadas. Ao nascer, a criança já conheceria a língua, antes mesmo do contato com esta.
O cognitivismo faz uma relação da linguagem com a cognição.
Cognitivistas como Piaget e Vygotsky dão relevância à relação linguagem pensamento. Para tais teóricos a criança constrói o conhecimento com base na experiência, oriunda do meio em que esta vive. A criança interage e reage em conjunto com o meio ambiente. Construindo sua própria linguagem, tendo o adulto como mediação na construção do conhecimento.

Referências Bibliográficas.

DEL RÉ, Alessandra. A aquisição da linguagem: uma abordagem Psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

DEL RÉ, Alessandra. A pesquisa em Aquisição da linguagem: teoria e prática. In DEL RÉ, Alessandra – A aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto pp. 13-25.



Márcia Rejane Alves Rodrigues escreveu este artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.



COMO A LINGÜÍSTICA EXPLICA A LINGUAGEM DA CRIANÇA

COMO A LINGÜÍSTICA EXPLICA A LINGUAGEM DA CRIANÇA

PATRÍCIA ANDRADE
DANIELE PASSOS
MÁRCIA REJANE


A linguagem da criança sempre despertou curiosidade e indagações entre estudiosos e interessados no assunto. Adentrar no mundo da linguagem infantil é descobrir o quão complexo ele é.
Desde seu nascimento, a criança passa a viver e a ter contato com a mãe, em seguida interagindo com outras pessoas, assim, aos poucos, ela constrói e desenvolve seu mundo, e, nesse caso, o seu mundo lingüístico. É nesse processo, desde seu nascimento até o momento que adquire a linguagem, que estão os estudos sobre a aquisição da linguagem.
A princípio, o interesse sobre esse assunto pode ser encontrado no século XIX quando os estudiosos, nesse caso, os pais, registravam as falas de seus filhos em livros, elaborando diários.
Nesta época, prevalecia a fase da Lingüística Histórica ou da Gramática Comparada , que estudava as línguas vivas e as comparações entre elas. A partir dos trabalhos de F. de Saussure a Lingüística foi reconhecida como estudo científico e a partir da segunda metade do século XX ela passa a ser descritiva e explicativa segundo a Gramática Gerativa Transformal proposta por Chomsky.
Dentro dessa nova perspectiva surgiu à sociolingüística e a psicolingüística e é no campo dos estudos lingüísticos que podemos adentrar ao estudo da aquisição da linguagem fazendo menção dos processos psicológicos implicados à aquisição.
Na oralidade, a psicolingüísticos é um campo muito amplo, uma área de pesquisas variadas, cabendo o investigador optar por uma área específica, neste caso, dentro dos estudos psicolingüísticos, optamos sobre o estudo da aquisição da linguagem.
Os principais questionamentos que se fazem acerca de como as crianças adquirem a linguagem são as seguintes: Como as crianças aprendem tão rápida a língua materna? Será que ela já nasce com uma pré-disposição ou ela é adquirida? Existe um período crítico para uma aquisição? Existe uma diferença entre o processo de aquisição da linguagem de uma criança normal e uma criança com algum tipo de desvio? A fonologia das primeiras palavras é adquirida antes da morfologia e sintaxe ou vive-versa?
Para melhor explicar estas questões, várias teorias foram lançadas. Vejamos então a seguir uma breve visão das correntes teóricas sobre a aquisição da linguagem infantil.

1 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO SEGUNDO A PROPOSTA EMPIRISTA

O pensamento empirista foi à base para as duas primeiras teorias em aquisição. A mente não era considerada fundamental para justificar o processo de aquisição, importava somente que o conhecimento humano era produzido a partir de suas experiências com o mundo através de estímulos e respostas. Nessa perspectiva, nasce a teoria Behaviorista pressupondo que a criança desenvolve seu mundo ou conhecimento lingüístico através de estímulo-resposta ( E – R ) imitação e reforço. B. F. Skinner fundamenta sua teoria com base nos reforços que a criança sofre que podem ser esforços positivos ou negativos. De acordo com esses reforços a criança manteria ou eliminaria algum tipo de comportamento referente à linguagem e isso a ajudaria a construir, a desenvolver e aprender uma determinada língua.
O Behaviorismo, porém, não levou em conta a criatividade que a criança possui, por exemplo, quando ela profere certas construções que não foram ensinadas previamente a ela. A criatividade, portanto, seria alvo de vários estudos posteriores.
Outra teoria com base na proposta empirista é o conexionismo ou associacionismo. Essa teoria admite que o cérebro e suas reses neurais são responsáveis pelo aprendizado imediato no mesmo instante que ocorre a experiência. Essa teoria baseia-se na interação entre o organismo e o ambiente, porém, não explica com coerência a rapidez com que a criança aprende uma língua.


2 – TEORIAS DE AQUISIÇÃO SEGUNDO A PROPOSTA RACIONALISTA

Diferentemente dos empiristas, os racionalistas atribuem à mente a responsabilidade pela aquisição da linguagem. Pressupõem que todo ser humano nasce com uma capacidade inata que subjaz o processo de aquisição.
Segundo os inatistas, ao observarem uma criança de aproximadamente 3-4 anos vivendo em um meio em que todos falam uma determinada língua viram que as mesmas eram capazes de produzirem sons dessa mesma língua com rapidez e precisão levando esses estudiosos a concluírem que a partir dessa idade a criança já está com sua “gramática” quase completa. É que, ao contrário dos behavioristas, esta aquisição não se dá por repetição e sim por outro meio a pré-disposição em adquirir uma língua é transmitido geneticamente, a criança já nasceria com uma certa competência em adquiri-la. No entanto, esse conhecimento considerado inato só é ativado através do contato com outras pessoas que falem a mesma língua a qual a criança está exposta. Através desse contato intenso, as sentenças recebidas pela criança são trabalhadas gerando a gramática de sua língua, tudo isso por meio de um dispositivo de aquisição da linguagem: o DAL. É a partir desses pressupostos que Noam Chomsky propõe a Gramática Universal baseada na intuição do falante.
A teoria inatista entretanto, deixa de lado o papel do conhecimento na aprendizagem da língua da criança cabendo as outras teorias nesse estudo, como as teorias cognitivistas e interacionalistas. Essas teorias convergem e divergem entre si, ambas construtivistas, as duas partem do mesmo pressuposto de que as crianças constroem a linguagem, porém, diferem de como elas contraem essa linguagem. Enquanto que o cognitivismo, representado por Piaget propõe que a criança constrói seu conhecimento através da experiência com o mundo físico e que nesse conhecimento se desenvolve por estágio admitindo o egocentrismo da criança, o interacionalismo de Vygostsky se baseia nas trocas comunicativas entre a criança e o adulto, o desenvolvimento da linguagem e o pensamento tem origem social através dessa interação.
Piaget e Vysgotsky estavam mais interessados em explicar a relação linguagem e pensamento do que a aquisição da linguagem. Como vimos, suas teorias surgiram para explicar as questões referentes ao processo do conhecimento adquirido na aprendizagem da língua, que Chomsky havia minimizado em seus estudos.
O estudo sobre aquisição tanto contribuiu para as pesquisas lingüísticas quanto para o estudo da cognição humana. Para se estudar a aquisição da linguagem é preciso adentrar em suas teorias, pois foram a partir delas que se iniciaram estudos sobre o assunto, cada uma tenta melhorar explicar expondo suas idéias pressupostos como as crianças adquirem a linguagem e é nelas, portanto, que podemos nos fundamentar se quisermos seguir em diante no mundo lingüístico infantil e descobrir que muito se tem para estudar sobre o assunto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DEL RÉ, Alessandra. A aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

DEL RÉ, Alessandra. A pesquisa em aquisição da linguagem: teoria e prática. In DEL RÉ, Alessandra – A aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto pp. 13 – 25.
PATRÍCIA ANDRADE, DANIELE PASSOS e MÁRCIA REJANE escreveram este artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.

E-mail: vicente.martins@uol.com.br

COMO A LINGUAGEM ORGANIZA NOSSO PENSAMENTO





DANIELE PONTES PASSOS
PATRICIA ANDRADE


A linguagem permite ao homem ligar o presente ao passado e antecipar o futuro. É através dela que o homem pensa, lembra, elabora conceitos, organiza suas experiências, trabalha no nível de abstração, prevê, julga, planeja, idealiza.


Diante da necessidade de se explicar como e de que modo à criança vai adquirindo a linguagem desde o momento em que nasce até os modos de expressão verbal e não verbal, os estudiosos começam a se preocupar com a aquisição e desenvolvimento e processamento da linguagem.
Surgem então as principais teorias que abordam sobre o processo de Aquisição da linguagem, entre elas o behaviorismo.


Este termo behaviorismo foi inaugurado pelo americano Jonh B. Watson, em um artigo de 1913 que apresentava o título Psicologia como os behavioristas a vêem. O termo inglês behavior significa comportamento, daí se denomina esta tendência teórica de behaviorismo. Mas, também, utilizamos outros nomes para designá-la, como comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do comportamento.


Esta teoria no que se refere ao processo de aquisição da linguagem teve como base a proposta empirista sendo que esta não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição. Para a proposta empirista importava o fato de o conhecimento humano ser derivado da experiência e de a única capacidade inata que ele possuía ser aquela de formar associações entre estímulos e respostas (E-R).Os estímulos e respostas são, portanto, as unidades básicas da descrição deste processo de aquisição e o ponto de partida para uma ciência do comportamento.


A teoria behaviorista parte do pressuposto que a criança é uma “tabula rasa”, ou seja, que ela nada traz consigo e que tudo o que ela aprende é adquirido através de experiências com o meio, ambiente, ou seja, através de um processo de integração com o outro. E esta só desenvolve seus conhecimentos lingüísticos por meio de estímulo-resposta (E-R), imitação e reforço. E assim para B.F. Skinner o mais importante dos behavioristas que sucedem Watson, a linguagem pode ter um reforço positivo, onde o comportamento, ou seja, a linguagem se manteria. E assim qualquer coisa que faça crescer a possibilidade de que resposta ocorra é vista como reforço positivo. Alimento, elogio, dinheiro, um balançar de cabeça e um sorriso são exemplos de reforço positivo.


Existe também o reforço negativo, aquele que provoca uma resposta de esquiva, isto é, o indivíduo evita determinado comportamento com medo de punição. Um exemplo claro disso, é de uma criança, pois quando fala algo que seus pais não gostam, estes então a repreendem com um castigo, e então, ela vai ficar com receio e percebe que isto não é bem aceito por seus pais.



A imitação também é um fator de grande importância neste processo de aquisição da linguagem, pois a criança diante da interação com outras crianças e com os adultos, começa a imitá-los e isso chama a atenção dos adultos e eles passam a incentivá-la ou recompensá-la por essa imitação.
Watson e Skinner são os dois grandes nomes do behaviorismo. Todavia, outros tantos se destacam como Clark Hull, Dollard, Miller, Tolmun, Guthrie, etc.


Diante disso, não existe só uma teoria estímulo resposta (E-R), mas um grupo de teorias, mais ou menos semelhantes, embora tendo cada uma delas ao mesmo tempo algumas qualidades distintas. E foi assim que esses sistemas começaram, como tentativas para avaliação da aquisição e retenção de novas formas de comportamento que apareciam com a experiência. E é por isso que se dá grande ênfase ao processo de aprendizagem.


De acordo com as teorias comportamentalistas, os modelos da personalidade e principalmente do processo de aquisição da linguagem são resultados das respostas aprendidas aos estímulos do ambiente.

Skinner é o fundador da maior escola de pensamento na psicologia (E-R). Ele realmente fundou um sistema que se baseia no behaviorismo de Watson e nos conceitos de estímulo, resposta e reforço. Segundo seu conceito, reforço é qualquer estímulo que torne mais forte a resposta que leva de volta ao estímulo. Skinner distingue entre dois tipos de aprendizagem: a respondente e a operante. Para ele, o tipo operante é mais importante, desde que envolve formas mais complexas de aprendizagem.


Na aprendizagem operante, as situações devem ser arranjadas de modo que a resposta desejável seja relacionada ao reforço. Exemplo: em uma instituição, um cientista gostaria de levar um dos internos ao laboratório para estudo, e toda vez que este interno passava pela porta do laboratório, o cientista lhe sorria e lhe dava bombons, coisa que o indivíduo muito apreciava. Com o tempo, o sujeito passou a esperar o sorriso e os bombons por parte do cientista. Posteriormente, este não apareceu à porta do laboratório e o interno, toda vez que por ali passava, olhava ansiosamente para dentro do laboratório, até que, um dia, acabou por entrar (busca do estímulo). Como se pode ver, a situação foi arranjada, usando-se um reforço para que o indivíduo desse a resposta desejada, que era entrar no recinto da pesquisa.


É percebível que a contribuição do behaviorismo para os estudos de aquisição da linguagem é muito significativa, pois é através das nossas relações com os outros, em que a linguagem se coloca como fator primordial, é que vamos elaborar nossas representações do que é mundo. A palavra está, então, intimamente ligada à transmissão ou imposição da ideologia dominante. E assim seu desenvolvimento em todos os aspectos se dá em um meio social - lembremos que as palavras dos outros se tornam nossas palavras, sua maneira de falar, nossa maneira de falar, as idéias que eles veiculam através da palavra se tornam nossas idéias e as respostas esperadas ao estímulo de meio social.


Assim, por exemplo, se uma criança usa uma palavra ligada a sexo, em nossa cultura, ela é reprovada com uma cara fechada, palavras de repreensão ou mesmo um castigo. Ela aprende três coisas: que a palavra não pode ser dita; que se for dita será considerada como agressão; e, ainda, que o sentido implícito, sexo, não é algo bem aceito em sua sociedade. É partindo deste pressuposto que a linguagem pode estimular diretamente um padrão de resposta específico e isto é crucial na aprendizagem e na elaboração mental.


Portanto, é a partir da teoria behaviorista que são conhecidos os métodos de ensino programado e o controle e organização das situações de aprendizagem, bem como a elaboração de uma tecnologia de ensino, pois a análise experimental do comportamento auxilia-nos a descrever nossos comportamentos em qualquer situação ajudando-nos a modificá-la. E assim, percebe-se que a interação e a comunicação entre os indivíduos são as conseqüências mais evidentes no processo de aquisição da linguage

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES Anna Christinna (orgs). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, V.Z. São Paulo: Cortez, 2001.

SANTOS, Raquel. A aquisição da linguagem.
FIORIN, José Luiz (org.) Introdução à lingüística: I. objetos teóricos. São Paulo: contexto, 2002.

DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem: uma abordagem psicanalingüística. São Paulo: Contexto, 2006.

DANIELE PONTES PASSOS E PATRICIA ANDRADE escreveram este artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.



COMO A EXPERIÊNCIA INFLUENCIA A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM





Márcia Rejane Alves Rodrigues
Maria Neuma Freire Araújo


Este artigo vem ilustrar de forma sintética os principais pressupostos da teoria do comportamento, mais conhecida como Behaviorismo1, tese embasada na corrente filosófica empírica, onde trata do conhecimento humano, incluindo a Aquisição da Linguagem, como sendo conseguido através das experiências vividas por cada indivíduo.

Como ocorre a aquisição da Linguagem? Que processos acontecem na mente de um indivíduo, quando este está aprendendo a falar determinada língua? O que está por trás desse processo de aquisição? O que influencia, favorece e/ou desfavorece essa aquisição?
Essas perguntas tem sido alvo de muitos estudos, desde muito cedo até hoje. E, como resposta dessas perguntas tem-se um acervo de teorias. Todas vêm contribuindo para novas descobertas, de uma maneira ou de outra, pois, a partir de suas postulações vem se especular mais, e pode ser que se esteja chegando cada vez mais próximo de responder com firmeza o que está em questão.
Uma das teses que se tem sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem é a tese Behaviorista. E esta teoria, assim como todas as correntes teóricas “aquisicionistas” fazem ou fizeram suas especulações voltadas para fatos lingüísticos infantis.
O Behaviorismo é baseado numa proposta empirista cuja

...não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição. Para ela, importava o fato de o conhecimento humano ser derivado da experiência e de a única capacidade inata que ele possuía ser aquela de formar associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas (E-R). (DEL RÉ et al., 2006).

Ou seja, o empirismo é uma corrente filosófica que afirma que todo e qualquer conhecimento deriva das experiências vividas por cada indivíduo.
Burruhs F. Skinner, psicólogo americano, um dos mais importantes behavioristas, acredita ter encontrado a explicação para o processo de aquisição do conhecimento humano de um modo geral, incluindo, certamente, o processo de aquisição da linguagem. “Skinner propunha ser capaz de predizer e controlar o comportamento verbal mediante variáveis que controlam o comportamento”2: estímulo-resposta, imitação e reforço. Sendo indutivo, o processo de aquisição do conhecimento.
Essa proposta afirma que um estímulo provoca uma resposta externa. Se esta resposta for reforçada positivamente, espera-se que esse comportamento se repita várias vezes. Já no caso da resposta ser reforçada negativamente, este comportamento tenderá a ser eliminado. E, no caso de não haver esforço algum, o comportamento também propende a não se repetir mais.
Hipoteticamente, uma criança deitada e acordada, ouve a voz de sua mãe (estímulo) e começa a chorar (resposta). Sua mãe vem e a coloca nos braços (reforço positivo). Essa ação da mãe faz com que a criança aprenda que, quando ela quiser ir para sua mãe, ela deverá chorar.
Para se aprender a falar o processo é o mesmo. Por exemplo, uma criança vê uma outra, mais velha, comendo chocolate (estímulo), e diz “dá” (resposta); se a criança mais velha lhe der um pedaço do chocolate, essa ação será, segundo Skinner, um reforço positivo, o que fará com que ela mantenha esse comportamento. Caso a criança mais velha não lhe ceda o chocolate (reforço negativo), ela não mais agirá dessa forma quando desejar algo semelhante.

O ambiente fornece os estímulos - neste caso, estímulos lingüísticos - e a criança fornece as respostas - tanto pela compreensão como pela produção lingüística. A criança, por esta teoria, durante o processo de aquisição lingüística, é recompensada ou reforçada na sua produção pelos adultos que a rodeiam (VICENTE MARTINS)3.

A imitação também é uma forma muito influente na aprendizagem da fala, já que as crianças aprendem muitas palavras através da imitação da fala de outras pessoas que falam próximo a ela. É muito comum ver crianças repetindo palavras que adultos ou crianças mais velhas próximas a elas falam.
Dessa forma, o Behaviorismo postula que o aprendizado da língua é semelhante ao de qualquer outro aprendizado, sendo adquirido através de reforços e privações.
A visão que os behavioristas tinham sobre a aquisição da linguagem assumia a afirmativa que as crianças nascem com comportamento inato preexistente, mas de forma bem reduzido. Por exemplo, acreditavam que as crianças possuíam, inativamente, algumas habilidades que seriam gerais.

Primeiramente, ela seria capaz de vocalizar. Depois, seria capaz de processar a vocalização de outros e presumivelmente, reconhecer similaridades entre essas e suas próprias vocalizações. Em terceiro lugar, teria a capacidade de relacionar a vocalização 'mamãe' com o contexto da mãe. Chamemos a isso a capacidade de formar associações. Além disso, a criança nasceria com impulsos básicos que a motivariam a formar associações. Por exemplo, um desses impulsos seria a necessidade de alimentação. As associações reais que se formariam, tais como entre a palavra ‘mamãe’, são resultados dessa experiência. (INGRAM, 1989).4

Apesar da explicação que o Behaviorismo oferece para entendermos a Aquisição da linguagem, encontra-se fatos que esta teoria não explica. Um deles é o evento de se conseguir produzir frases nunca ouvidas antes, como também compreendê-la; outro, é a rapidez do processo, pois uma criança de quatro anos, por exemplo, já utiliza um conjunto grandioso de regras da língua-mãe; um outro ponto seria o caso que ocorre com praticamente todas as crianças que estão aprendendo a falar que é o de dizer palavras que elas nunca ouviram antes mas, percebendo-se que nestas palavras a criança utiliza a forma regular em verbos irregulares, quando dizem, por exemplo, as palavras sabo, fazeu. Todos os casos citados negam, de certa forma, as postulações do Behaviorismo, fazendo crer que as crianças analisam a língua que falam e a partir daí produzem novas palavras.
Enquanto não se descobre qual a teoria certeira para explicar o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem de forma completa, uma certeza já há: a tese behaviorista trouxe grandes descobertas para os estudos da Aquisição da Linguagem contribuindo consideravelmente para os estudos envoltos a questão de como o ser humano adquire a língua que fala e como esse processo se desenvolve, portanto, deve ser valorizada e tida como grande tributária na caminhada de descoberta dessa grande “capacidade” do ser humano.
NOTAS

1- O termo Behaviorismo deriva da palavra inglesa behavior que significa comportamento.
2- Esta citação foi tirada de uma apostila que não possuía as referências bibliográficas, inclusive o nome do autor.
3- O ano da publicação não foi colocado porque não conseguimos localizá-lo na fonte pesquisada.
4- Esta citação é uma tradução feita pelos autores do artigo do qual ela foi retirada, no entanto, a citação original é de autoria de INGRAM.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGUSTO, M. R. A. (jul./dez. 1995) Teoria gerativa e aquisição da linguagem. Feira de Santana. p. 115-120.

MARTINS, V. A teoria behaviorista da aquisição da linguagem. http://www.profala.com/arteducesp71.htm. Acesso em: 22/01/2007.

RÉ, A. D. et al. (2006). Aquisição da Linguagem uma abordagem psicolingüística. Editora contexto. São Paulo.

Márcia Rejane Alves Rodrigues e Maria Neuma Freire Araújo escreveram o presente artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.